No mundo da educação se encontra de maneira mais concentrada a intelectualidade da sociedade. Idéias, conceitos, teorias, fórmulas, conhecimento acumulado, arte, espiritualidade, filosofia, ciências com seus objetos específicos. Essas idéias todas, também precisam ser pastoreadas, apascentadas, cuidadas. As idéias não são entes metafísicos independentes. Elas brotam de pessoas, são difundidas por pessoas, produzidas e re-elaboradas por pessoas que nas instituições educativas encontram solo fértil para a criação e cultivo. Uma Pastoral da Educação, para além do ativismo, precisa clarear os conceitos básicos. Quando os conceitos estão claros, as chances de assertividade são mais evidentes.
Conceituando educação
O problema
No universo do senso comum, há uma freqüente confusão entre educação e ensino-aprendizagem. Esses dois conceitos não são excludentes, mas também não se misturam. Há uma diferença na amplitude. Enquanto o ensino-aprendizagem se dá pela socialização do saber acumulado, o que é uma tarefa da educação formal, com seus métodos e propostas pedagógicas, a educação é mais abrangente. Ela ultrapassa o mundo da escola. É a vida que educa e a escola é somente uma parte da vida.
Sem a pretensão de esgotar o tema, queremos nesse artigo, fazer algumas provocações para o debate. Os temas Filosofia da Educação, Epistemologia da Educação, Sociologia da Educação, são temas mais abrangentes que extrapolam o nosso objetivo. Nesse artigo pretendemos refletir a educação no sentido abrangente do tema, e sair do reducionismo do ensino-aprendizagem que é da competência da educação formal.
Rev. Pistis Prax., Teol. Pastor., Curitiba, v. 1, n. 1, p. 13-26, jan./jun. 2009
Fundamentos para uma pastoral da educação
Educação para além das opiniões e do senso comum
Educação é humanização. Ou a educação é humanizadora ou não será educação. A humanização começa quando nascemos e se estende por toda a vida. Quando o ser humano nasce, ele é um feixe de apetites, frágil, indefeso e carente de todos os cuidados. Já afirmava Rosseau: “nascemos fracos, precisamos de força; nascemos desprovidos de tudo, temos necessidade de assistência; nascemos estúpidos, precisamos de juízo.” Tudo o que não temos ao nascer e que precisamos como adultos, nos é dado pela educação (ROSSEAU, 1961, p. 7). Mas, por ser inteligente e livre, o ser humano descobre o mundo, torna-se criativo e a partir daí, é uma variante de possibilidades. É então, pela educação que o ser humano se torna um ser quase perfeito (imagem de Deus), ou sem ela, poderá se tornar até o mais perverso de todos os animais, muito distante do ideal de ser humano que aparece na Bíblia, pregado por Jesus Cristo e sustentado pela Igreja ao longo dos séculos.
Educação é libertação. A origem etimológica do termo vem do latim educcere, que significa tirar de dentro, libertar, fazer surgir algo de novo e próprio. O grande educador católico, Alceu Amoroso Lima, dizia que o educador “revela o aluno a si mesmo. Traz à luz aquilo que pode estar dormindo no fundo de uma consciência amorfa e infecunda” e depois acrescenta que “educar é civilizar e civilizar é espiritualizar”. Na esteira deste conceito, num de seus discursos, Ghandi também dizia que “educação consiste em fazer aflorar o que há de mais nobre dentro das pessoas.”
Educação é emancipação. Ser emancipado é sair das tutelas e viver a vida de maneira livre e responsável sem dependência de tutores. O ideal de ser humano é ser livre e interdependente. Somos interdependentes uns dos outros
porque somos seres sociais, mas temos autonomia para decidir, criar, transformar, interagir com o mundo e ser protagonista. A pessoa educada tem senso crítico, capacidade de discernimento e de decisões.
Educação é abertura para a transcendência. O ser humano é biologicamente um animal, sim, porém, diferentemente dos outros animais, é um animal pensante (um ser que pensa) e por ser pensante, ele descobre que não se basta sozinho e por isso se abre para o transcendente, para o mistério de Deus, para o infinito. Então, pela vida vegetativa, nos assemelhamos a todos os seres vivos; pela vida animal, somos também animais; pela razão que possuímos, somos portadores de consciência e no mais íntimo da nossa consciência descobrimos que temos o espírito de Deus e com ele podemos nos tornar santos.
Educação, portanto, é toda essa plenitude. É muito mais do que aprender as ciências todas. Educação é aprender a viver como ser humano, tornar-se plenamente humano, e na concepção cristã, a imagem do Deus criador.
Há algo de transcendência na educação. A humanização do ser humano necessita do processo educativo, a partir do nascimento e por toda a vida. É no processo educativo que o ser humano se torna um ser integrado com o cosmos,
virtuoso e comprometido com a vida. A concepção cristã de educação entende o ser humano como mediador entre a natureza e o criador, que segundo o texto bíblico, descansou no último dia (Ex 31,17), deixando o mundo aos cuidados
do homem, não para destruir, mas para cuidar do paraíso.
Educação e ensino escolar
Ensinar é parte do processo educativo e compete à educação formal, ou à escola, a tarefa específica de ensinar, o que de maneira alguma exclui a missão de educar, pois deverão ser complementares. Ensinar é uma tarefa pedagógica
com metodologia específica. A Pedagogia é uma ciência que possui sua própria epistemologia e procura dar conta do processo ensino-aprendizagem. Ensinar é competência da escola, dever da escola. Aprender é um direito de todos os cidadãos.
Atualmente o processo de ensino-aprendizagem está cada vez mais fazendo uso do modelo de ensino à distância. Será possível, também, educar à distância?
A Unesco afirma que aprender é: conhecer, fazer, viver e ser. Sendo assim, são quatro os elementos que constituem a aprendizagem. Em primeiro lugar é o conhecer, isto é, compreender o objeto a ser estudado, sua essência, sua lógica, sua dinâmica, a verdade sobre ele. Em segundo lugar a Unesco fala em fazer, quer dizer, quem aprende é capaz de fazer, em outras palavras, quem sabe faz, e se não sabe fazer é porque não aprendeu. Depois vem o viver, aprender é aprender a viver com todas as implicações deste termo: relações sociais, relações com a ecologia, com a ética e a moral, com as concepções religiosas. E por último, aprender é aprender a ser. Ser gente e ser humano de maneira plena, não é pouca coisa. Ser pessoa humana é possuir um valor ontológico maior que todas as outras criaturas, é ser capaz de gerenciar o mundo, de cuidar do mundo, de se apropriar do mundo e de fazer do mundo um ambiente ecumênico para todos, uma casa habitável e feliz.
FUNDAMENTOS PARA UMA PASTORAL
FUNDAMENTOS PARA UMA PASTORAL